Juca Maximo é capa no jornal Diario do Nordeste e caderno Verso

junho 2, 2020by JucaPress

Artista cearense Juca Máximo propõe discussão sobre ausentar-se a partir da simbologia das máscaras

Produzida em 2018, série “Absences Yourself” traz pinturas e esculturas que dialogam com o momento de pandemia.

Dois anos antes das máscaras transformarem-se em item obrigatório em nosso cotidiano, o artista cearense Juca Máximo já experimentava esse conceito em suas obras da série “Absences Yourself”. Em 2018, a proposição era de que, por meio de seus trabalhos com esse elemento, o público permitisse se ausentar de tudo que não lhe pertencia de verdade, das coisas que verdadeiramente não amasse e não quisesse para si. “O sair do ‘fora’ para encontrar o que vem de dentro, ver no mais íntimo do ser a sua essência, o se conectar consigo”, introduz, numa reflexão bem atual.

Dentro dessa perspectiva, Juca desenvolveu 15 pinturas (acrílico sobre tela) e cinco bustos (pintados sobre resina), alguns dos quais já viajaram por três continentes: Europa, Ásia e América. A série foi lançada no Festival de Londres Jackson’s Jopp. Depois, o artista a enviou para o Festival Art Revolution Taipei, em Taiwan, no qual expôs como finalista em 2019, e, logo em seguida, seguiu para Chicago a partir da plataforma “The Other Art Fair da Saatchiart”.

Por onde passou, atraiu a curiosidade dos estrangeiros, que envolviam-se ao ponto de sentirem a ausência ao utilizarem as máscaras.

“Decidi relançá-la agora (virtualmente) em época de pandemia (em parceria com o Portal Internacional Ello.Co), pois vi que aqueles meus sentimentos e a vontade de me ausentar de tudo que não fazia parte de mim, o que não era meu de verdade, veio fortemente nesse momento de confinamento”, diz.

O contexto não permite ainda uma exposição física em Fortaleza, mas ele afirma já tê-la pronta, só aguardando o momento pós-pandemia chegar. “Meus trabalhos possuem muita perspectiva, muitas delas são intervenções que precisam que as pessoas interajam para sentir algo de fato, então, a exposição física é muito importante para conectar as pessoas com minhas obras”, ressalta.

Juca reconhece, em suas reflexões, que hoje vivemos por trás de máscaras que nos afastam de várias possibilidades. Mas ressalta que, para ele, agora “podemos repensar e tentar encontrar algo verdadeiramente nosso dentro da gente, investigar no consciente e quem sabe, o inconsciente, e encontrarmos o que de fato queremos ser, viver e acreditar”.

Processos

O artista faz questão de destacar que suas inquietações não são da ordem política nem social, mas sim interna, o que ele busca entender com suas pesquisas artísticas. “Minhas obras são eu mesmo, o que sinto, o que quero sentir, viver, fazer. Diferente de muitos artistas que planejam suas séries e projetos, eu deixo o meu consciente e inconsciente criarem, depois vou lá e avalio o que criei e tento entender o porque daquilo. E quase sempre encontro as respostas a essas perguntas na psicanálise, na psicologia, na filosofia ou no simplesmente no sentir. A série “Absences Yourself” por exemplo, veio de um sonho”, contextualiza.

Juca entende ainda todo seu trabalho como um processo conectado, e cita as séries “Expressionism”, “Portrait Colors”, “Absences Yourself”, “Pele que sinto” e “Conexão” numa linha cronológica que ganha sentido em conjunto. “Examinar o que significa o ‘ser’ e o ‘sentir’ é o material da minha pesquisa, e o grande desafio disso é fazer tudo de uma nova forma, com uma nova roupagem. Entender, primeiramente, o que significa passar por tudo isso. Não falo só de mim, mas de toda a humanidade, e entender as possibilidades de captura desses sentimentos nesse momento tão complexo para expressar com minhas séries”, explica.

Criação

Em isolamento desde que a ameaça do novo coronavírus chegou a Fortaleza, Juca entende que o confinamento é algo inerente aos artistas, que, segundo ele, já vivem confinados em suas ideias, pensamentos, pesquisas, processos. “Vivemos a arte o tempo todo”, pontua. Para ele, nesse sentido, seu processo criativo não foi tão comprometido com a pandemia, e talvez tenha até dado um salto.

“Parar para investigar e navegar pela nossa consciência e inconsciência é algo que estou podendo fazer da maneira que menos terá interferências externas em toda minha vida. É um momento único de descoberta”, evidencia o artista.

Durante a pandemia, Juca já criou mais seis obras da série e continua em produção. O conceito de “se ausentar de si mesmo”, segundo ele, é algo que vivemos ciclicamente e merece ser revisitado.

“Hoje podemos estar cheios de tudo que nos fortalece e nos enche de pensamentos bons, positivos, energia e vontade de ir adiante. Mas temos que sempre avaliar se o que sentimos vem de dentro, ou de fora. E mesmo estando em outro momento no começo da quarentena, voltei a permitir me ausentar novamente. Não só na criação de novas obras da série, mas também para buscar dentro de mim, a minha essência, reavaliar a minha missão de vida”, destaca.

A principal reflexão enquanto artista que ele faz diante desse cenário de calamidade é que se faz necessário adaptar-se a tudo que possa acontecer, assim como tantos outros pares já o fizeram em momentos de guerra, mudanças tecnológicas e epidemias.

“Eu estava apresentando máscaras ao mundo há dois anos, e hoje vivemos e viveremos por um bom tempo por trás delas. Como Gormley disse uma vez, ‘a arte é para o futuro’, o artista tem que pensar à frente do seu tempo para poder mudar tudo a sua volta. É a minha grande procura, é a minha grande pesquisa. Tentar entender o que preciso fazer hoje para o mundo, olhando para o futuro”, finaliza Juca.

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