Juca Máximo dá entrevista ao Jornal OPovo e fala como está sua criação durante a Pandemia.
Leia a entrevista na íntrega:
– Você tem participado de algum movimento neste sentido?
Tendo em vista que nosso segmento foi o primeiro a fechar as portas, venho observando vários movimentos artísticos no mundo todo, vi exposições online, artistas fazendo lives, criando obras ao vivo e vendendo por meio de leilões na própria plataforma, mas desde o início decidi aproveitar o momento para primeiro, lançar obras que estavam apenas nas ideias ou esboços, como os bustos que venho lançando nas ultimas semanas. Segundo, finalizar obras inacabadas, que por muitas vezes me faltava tempo por estar frequentemente com a agenda envolvida nas viagens, reuniões com patrocínios e exposições. Mas principalmente, venho trabalhando na minha pesquisa artística, experimentando novas técnicas, criando novas técnicas. Entendendo mais de química e estudando mais o que minhas obras expressam, que são as atuações do consciente, do inconsciente, as questões intrínsecas das crenças espirituais, dos sentimentos construídos pelas nossas experiencias de vida ou injetados pela sociedade. Entendendo mais os sentimentos, da onde vem, como surgem, o que significam, o que expressam, qual estagio do consciente vem essa expressão ou se vem do inconsciente, enfim, venho aprofundando minha pesquisa artística no “ser”e no “sentir”.
– Como tem sido este período (de pandemia) para você enquanto artista? Como tem feito para vender suas obras? Chegou a vender alguma neste tempo?
Estou encarando esse período como um processo, na realidade, é examinar o que significa o “ser” e o “sentir” que é o material da minha pesquisa, e o grande desafio disso é fazer tudo de uma nova forma, com uma nova roupagem, entender primeiramente o que significa passar por tudo isso, não falo só de mim, mas de toda a humidade, e entender as possibilidades de captura desses sentimentos nesse momento tão complexo.
Sobre as vendas, sempre fui bastante agressivo em relação a encarar minha arte como não só uma expressão ou crítica, mas também como um produto do meio, então como tenho mercado em 3 continentes, continuo fazendo as vendas por esses canais, e claro, me foquei nas encomendas que é bastante conveniente no momento.
– O que tem feito/criado ultimamente?
Tem uma frase que coloquei no meu studio, para que eu possa sempre lembrar do grande objetivo da minha missão, que diz assim: “é preciso se conectar consigo mesmo”. Então, basicamente venho sendo o super cético de tudo que venho entendendo na minha pesquisa, observando as várias possibilidade e entendimentos para poder aprimorar meu conhecimento sobre o meu eu. E ao expressar em alguma pintura, escultura ou intervenção, que as pessoas possam sentir ou se conectarem com o seu eu com mais intensidade, intimidade e propriedade.
– Aproveitando, como seu olhar se relaciona com o feminino?
Essa pergunta me lembra uma matéria que saiu sobre mim em um portal em Sidney na Austrália, que tinha como titulo ”Bold Femininity and Impasto Power”, resumidamente a matéria falava da minha experiencia na criação por sete mulheres, e que eu usava técnicas corajosas e agressivas para representar o elegante e o belo. E falava também da expressão profunda na forma feminina. O que aprendi com aquelas sete mulheres naquele tempo, foi a essência da entrega feminina. Os sentimentos femininos por assim dizer, são os mais intensos, mais calorosos, mais expressivos, mais cheios de internalidades. O que falar das mães, das formas extremas de entregar tudo cheio, nada delas vem no copo meio vazio, sempre vem transbordando de amor, de entrega, de intensidade, não existe a razão pra uma mãe, só o amor.
– Quais suas técnicas (para artes visuais)? Faria/faz alguma por encomenda? Você intermedia a entrega? Quais os valores? É possível citá-los?
Tenho algumas referencias artísticas que me encorajaram a primeiro, não levar muito a sério as formas criativas já existentes, é mais difícil inovar tendo a mentalidade e visão de como fazer sempre da mesma maneira as coisas, usando técnicas centenárias, ou aquela mesma maneira de fazer arte. E segundo, ser um pouco irracional na criatividade e utilização de materiais e técnicas. Então minha técnica hoje, ainda em evolução, e acredito que assim sempre será, são junções de técnicas experimentais, algumas delas foram feitas por acaso, com misturas de materiais, além da forma clássica que é pintar sobre tela, ou esculpir em clay, mas também assim como grandes artistas como Antony Gormley, Emil Alzamora e Lorenzo Quinn, uso técnicas contemporâneas como o procreate, modelagem 3d, impressão 3d, e claro minhas próprias técnicas.
Hoje com essa pandemia, o que mais sai são as encomendas em pintura, e as infogravuras das minhas obras mais premiadas no exterior. Tendo em vista que o olho do dono engorda o gado, eu faço varias intermediações na entrega, mas quase sempre está nas mãos de marchands, galerias e portais internacionais. Como tenho vários produtos, como pinturas originais, limited edition, esculturas, bustos numerados, divisórias artísticas, meus valores se alternam de 3.000 a 60.000 reais, depende do produto, do prêmio que venceu, onde já expôs, entre outros fatores que definem os preços no segmento.
– De forma agora mais ampla, quais suas reflexões sobre a arte visual no momento?
Já percorri grandes polos artísticos como Estados Unidos, Taiwan, China e Europa e vi que a arte continua e sempre continuará subjetiva, interpretativa e uma aposta comercial de alguém importante no meio. De maneira ampla e objetiva, posso dizer que se quisermos, podemos optar por chamar o resultado da minha obra, ou da obra de Picasso, ou daquele artista novo que ninguém conhece como arte, mas para mim, a questão “Isso é arte?” desde Duchamp, é uma questão bastante enfadonha. Muitos gostam e amam as minhas obras, outros não. Se olharmos a história, temos uma lista enorme de grandes artistas que não convenceram em vida, ou que só receberam os méritos depois longos anos, posso listar aqui: Rodin, Van Gogh, Mondigliani, e assim é hoje também, aqui e na China. O que acredito hoje na arte visual é a forma com que encaro tudo que crio, eu chego, olho pra obra e penso: “Não importa pra mim, se o que eu faço é arte ou não, ela só precisa tocar a alma das pessoas de alguma forma, se não, de que serve?” Então vejo a arte visual com os olhos abertos, acreditando que como Gormley falou uma vez: “A arte é para o futuro”, portanto, nunca de fato, seremos capazes hoje de entender algo que é construído para o amanhã, mas um dia, iremos estudar, interpretar e nem sempre o que foi interpretado é o que o artista quis dizer, e isso com toda sinceridade, não importa pra maioria de nós, o que importa é que a arte sobreviva e se conecte com as pessoas com o tempo.
– Por fim, qual sua idade e tempo de profissão/ocupação?
Tenho 36 anos, tenho mais de 10 anos como diretor de arte e ilustrador, mas por casualidade, sem a menor das intenções, assim como Kandinsky e Van Gogh eu larguei tudo depois dos 30 para viver de arte, e hoje a arte é 100% minha ocupação e minha vida, a minha missão.